BOA NOITE QUERIDA….

Esse conto, também, faz parte do corpo do livro não-publicado “A Vida não é uma comédia”.
Fica aqui, como que, uma homenagem aos eternos namorados!!!

BOA NOITE QUERIDA…

Artur somente limitou-se a olhar, com uma expressão de pavor. Não acreditava ou não poderia acreditar que era a Renata. Não a Renata… não a Renata. Mas, para a sua imensa dor, era sim, a Renata, que estava como veio o mundo, ou seja completamente nua… só esperando por ele.

Só esperando… e talvez ficaria só esperando, porque nada, para a seu completo desespero, nada em Artur dava sinal de vida. Mesmo depois de quatro “Salve Rainha” e dois “Credos”, lembrados, com muita dificuldade, dos tempos em que era coroinha na matriz de Nossa Senhora do Amparo, lá em Desterros das Almas. Alias houve, também, uma promessa de ascender dez velas do tamanho dele, não dele, Artur, mas “dele”, que afim era mais fácil de carregar, nas escadarias da Matriz da cidadezinha. Mas, não houve a divina providência.

Renata, já meio impaciente, levanta-se da cama, caminha com graça e desenvoltura pelo quarto. Pensa em colocar o CD da “Banda Cheiro de amor”, para animar o ambiente, mas decide por colocar o CD “As Músicas Românticas do Mundo”, só para criar um clima… Com seu corpo escultural, fantástico e feérico, que nem Miguelângelo ou Rodin poderia esculpir, ela aproxima, com passo felinos, de Artur e sua doce voz de soprano indaga:
– Artuuuur… Arturzinho… gatinho o que está acontecendo?
– É… é… é que… que… eu… eu estou estressado, é isso. Eu estou estressado – respondeu Artur, olhando para o chão. E, agora, prometendo uma vela do seu próprio tamanho.
– Estressado com o que? Você não trabalho, não estuda, é rico…
– Justamente por isso… estou preocupado com a queda das Bolsas e com a crise asiática. Que podem afetar o padrão socio-financeiro do meu patrocinador. Com possibilidade de diminuição do valor da verba, devido a extrema desvalorização do câmbio de algumas das moedas fortes do planeta, pois no mundo globalizado, TUDO tem ligação!!! – respondeu um Artur mais seguro, dando graças por ter lido as manchetes do jornal de ontem e emendando o oitavo terço pelo ressuscitação do recém-falecido.
– Você quer dizer: paitrocinador, né? – Comentou Renata, mas interessa, agora, na revistinha da Mônica

Percebendo que havia perdido para o Cebolinha e cia, Arthur, discretamente, se levante, pega do telefone sem fio e vai rumando para a dispensa, lá no fundo do seu apartamento:

– Boa-noite, Drogaria do Anselmo. O seu pedido é uma ordem.
– Bom… eu… gostaria de um caixa de… Viagra.
– Desculpe, senhor. Mas não lhe escutei. O senhor pode repetir por favor? – respondeu a televendedora.
– E.. que eu gostaria de uma caixinha de Viagra…
– É vinagre, senhor?
– Não… não; é Viagra. V I A G R A!!!!
– Desculpe, senhor, mas Viagra, só vendemos no balcão e com receita médica. Hoje estamos de plantão…

Arthur desliga o telefone e sai da dispensa. Senta, abatido, na bancada da cozinha com ânimo dos derrotados. Não acredita ou não pode crer que esteja vivendo tal situação. Logo ele, que nunca… nunquinha havia falhado. E logo com quem? Com a maravilhosa, vitaminada, poderosa e feérica Renata. Perdido em seus pensamentos, ele não percebe que a moça chegou na cozinha e fica a olhar o seu ar de Walterloo. Só voltando à realidade quando a lírica voz de Renata o chama:

– Arthur, Estou com fome. O que tem para comer.
– Têm uns sanduíches de ricota na geladeira. – responde o derrotado, embora não foi essa a resposta que lhe passou pela cabeça.
– Arthur, você vai na festa do Romeuzinho?
– Não sei. Quanto que vai ser?
– Sábado. Realmente, esses sanduíches estão uma delícia !!! você não quer um teco? – perguntou a esplendorosa mulher.

Arthur olha para a moça, que veste somente uma camiseta: O cabelo negro, com a tal asa da graúna, vai maravilhosamente até aos ombros, e margeia a fabulosa testa; sobrancelhas a La Malu Mader; no lugar dos olhos: duas preciosas esmeraldas, lapidadas ao absoluto requinte; nariz que somente Deus poderia ter esculpido; os lábios, naturalmente, vermelhos e lindos. Enfim, tudo se resumia em um corpo simplesmente fantástico, maravilhoso, primoroso e feérico… que Arthur não consegue segurar e desaba em um choro frenético e compulsivo. Renata vendo o soluçar do rapaz, deixa o sanduíche sobre o balcão, acomoda a cabeça do coitado no seu colo e assume o seu conhecido papel de consolar rapaz em desespero:

– Puxa vida… – pensa a linda mulher – era que eu vou morrer virgem!!!!!!!!

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