COLEGAS, EU VI!!!! — PRIMEIRA EXTRAÇÃO, NINGUÉM ESQUECE…

PRIMEIRA EXTRAÇÃO, NINGUÉM ESQUECE…

“Pronto!!!! Lá estamos na clínica de extração.

O professor era uns dos decanos da odontologia de Minas Gerais; mestre que formara várias gerações de dentistas, possuia no seu CURRICULUM VITAE título de Doutor. Havia até uma piada corrente na época que dizia: ‘dentista que estudara em Belo Horizonte e não fora aluno desse decano era, com certeza, dentista-prático’.

Assim, Depois de uma breve palestra, chegou o grande momento de estar frente a frente, pela primeira vez, com um paciente de verdade. Estávamos em grupo de cinco alunos, então, o professor vira para mim:
“Leo Augusto vá chamar a dona E…”

E lá foi eu, com a grande missão de chamar a dona E… Lembro que estava todo paramentado com o meu equipamento de proteção individual – gorro, máscara, luvas, jaleco e os óculos de proteção – estava como um astronauta; e na verdade eu não andava… sentia que flutuava na falta de gravidade e segurando firme a papel onde estava escrito o nome da paciente. Dando golfadas no ar, enfim cheguei à porta e com uma voz firme e gutural falei:
“ Dona E… vamos, está na hora da extração.”

Depois de acomodar dona E… na cadeira do equipo, o professor indicou duas colegas para a realização da ficha clínica. Estávamos todos ali, assistindo aquela aula de semiologia ao vivo e só pensando na hora da extração propriamente dita. Pronto!!! Acabou a ficha clínica; outros dois colegas realizam os exames extra e intra-bucal e escolhemos qual dente seria avulsionado; naquela que seria a nossa primeira intervenção cirúrgica em um ser humano.

O professor pede à atendente a bandeja cirúrgica e nós prendemos a respiração, o professor arruma os instrumentais e nós aproximamos mais, o professor pega da seringa anestésica e nós prendemos a respiração… não de medo , emoção e/ou respeito, mas de espanto. O decano com a seringa na mão tremia mas que vara verde e nós ficamos sem saber se era algum método de introduzir a solução anestésica ou se era mesmo o inevitável processo de envelhecimento de um grande professor. Olho, interrogativamente, para o Bismark, ele me devolve o olhar afirmando que apostava na segunda opção. E pouco a pouco, cada um dos quatro restantes, também seguirão a indicação do Bismark.

Todos com a respiração prensa, torcendo que o professor, não acertasse os pontos anatômicos de referência, aprendidos na aula teórica, mas que acertasse pelo menos a boca do paciente. Aninha puxa uma Salve Rainha para que ele acerte o paciente… em qualquer lugar. Eu já havia perdido as esperança e fecho os meus olhos em uma oração e o Bismark, discretamente, assobiava o Réquiem de Mozart.

Alguém me cutuca, eu abro os olhos ainda em tempo de ver a Flávia sendo carregada da sala, branca com uma estatua de cera – estava passando mal . Pela providência divina, o professor acerta a anestesia e passa para o segundo passo: a sindesmotomia. Quatro dentes, além do nosso alvo, são sindesmotomados. Mas, agora, tudo já estava valendo. Terceiro passo: a luxação. O professor somente olhou para a avalanca e Aninha começa a entoar a ladainha. Então, ele luxa o dente, o alvéolo, a mandíbula, a cabeça enfim todo o paciente.

Isso, agora o quarto passo: o nosso decano decadente ataca o elemento dental com o fórceps. Eu começo uma torcida surda pelo dente… não vai sair… não vai sair… não vai sair. Mas, um colega grita, com a emoção de tudo um coração:
“Saiu… Saiu…saiu…”

Sim, saiu… saiu dente, osso, gengiva e Deus sabe o que mais. Então, olho para aquilo que foi um dente; preso nas garras do fórceps, e esse sendo mostrado, pelo professor, com troféu de um safari. E tenho a nítida impressão que eu não sou eu, mas sou Tomás de Gonzaga e que a qualquer momento as tropa da Coroa irá invadir a sala…

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