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CONTROVÉRSIA — Perfuração do esmalte para o tracionamento de caninos: Vantagens e desvantagens

CANINOPER1 – Vantagens:

Menor risco de um novo procedimento cirúrgico
A necessidade de um novo procedimento cirúrgico para acessar o canino não irrompido pode ocorrer devido à descolagem do acessório, imediatamente ou após a introdução da força para tracionamento. Essa soltura pode ocorrer pela força excessiva e/ou contaminação durante o procedimento de colagem do acessório ortodôntico. Considerando-se que, em sua maioria, os pacientes em idade de tracionamento são crianças, o manejo pode ser mais difícil, aumentado o risco dessa ocorrência e expondo-as a um novo procedimento cirúrgico, um risco que certamente pode ser evitado.
A perfuração do esmalte, apesar do custo biológico (desgaste de esmalte dentário, estrutura que não é reposta pelo organismo), reduz consideravelmente a hipótese de reabertura para novo acesso ao canino não irrompido, pois, quando esse é amarrado, o risco é praticamente nulo.

Menor manipulação dos tecidos
O Folículo Pericoronário é a estrutura essencial e fundamental da erupção dentária. Suas estruturas epiteliais, como o epitélio reduzido do órgão do esmalte e as ilhotas/cordões epiteliais remanescentes da lâmina dentária, liberam constantemente EGF ou Fator de Crescimento Epidérmico no tecido conjuntivo. Esse mediador, juntamente com outros ativados a partir de sua ação, induz a reabsorção óssea pericoronária, um fenômeno essencial para que ocorra a erupção dentária.CANINOPER6
Quando a perfuração é o procedimento adotado no acesso ao canino não irrompido, apenas uma pequena porção da coroa do dente necessita ser exposta, o suficiente para permitir sua execução. Essa porção da coroa pode ser a ponta da cúspide ou mesmo qualquer uma das superfícies proximais, considerando-se as características da anatomia da coroa do canino, que apresenta uma ponte de esmalte ao longo de toda a coroa, com resistência suficiente para ancoragem e tração.

Menor tempo cirúrgico:
A técnica da perfuração elimina a necessidade dos passos convencionais de um procedimento normal de colagem, que envolve aplicação de ácido, controle da umidade, aplicação de adesivo e a colagem do acessório ortodôntico. Realizar todos esses passos em um ambiente com controle de umidade total demanda tempo maior no transcirúrgico, considerando-se a dificuldade desse procedimento, realizado por meio da exposição cirúrgica do canino em campo aberto. Além disso, o procedimento cirúrgico deve ser realizado por um cirurgião bucomaxilofacial competente e, muitas vezes, esses profissionais não apresentam a mesma experiência para realizar a colagem do acessório ortodôntico.
A técnica da perfuração elimina todos os passos elencados anteriormente, o que determina menor tempo cirúrgico, menor sangramento e, consequentemente, menor edema no pós-operatório.CANINOPER5

Aplicação de força no longo eixo do dente e com magnitude melhor estabelecida:
A técnica da perfuração permite a aplicação de força diretamente no longo eixo do dente tracionado, resultando em melhor controle de direção para tração. Quando um acessório é colado na superfície vestibular ou lingual do canino não irrompido e uma força de tracionamento é inserida, deve-se observar a direção da resultante dessa força a fim de se evitar movimentos indesejáveis. Além disso, a presença de um corpo volumoso como um braquete ou botão na superfície do canino, em uma área submetida a um processo de reparo pós-cirurgia de acesso, provavelmente, cria restrições ao seu movimento, que tornam mais difícil estabelecer a força a ser aplicada.
Reconhecidamente, a força ideal deve ser de pequena magnitude, indo desde a mínima, em torno de 35 a 60 gramas quando a tração copia um movimento de erupção, até forças maiores, exigidas quando o canino necessita sofrer movimentos de translação para fugir de obstáculos na sua rota eruptiva. Em qualquer dessas situações, a determinação da força adequada fica mais difícil se fatores restritivos, como o mencionado, estabelecerem decréscimos indefinidos na magnitude da força disponível para executar o movimento de tração.

2 – Desvantagens:

Risco de fratura do esmalte
A técnica da perfuração exige cuidados para que o esmalte não sofra fratura no movimento de torção do amarrilho. Normalmente, são utilizados amarrilhos mais resistentes para esse fim, para que o risco de quebra e consequente necessidade de reabertura seja minimizado. Realizar a torção sem cuidados básicos, como a inserção da extremidade da sonda exploradora entre o amarrilho e o canino, pode culminar na fratura do esmalte e necessidade de nova perfuração, aumentando ainda mais o custo biológico do procedimento.

CANINOPERPossibilidade de dano pulpar:
A perfuração do canino deve ser realizada por meio de alta rotação, com irrigação abundante, perpendicular ao longo eixo do dente, com broca Carbide esférica de pequeno diâmetro (1/4”). Isso é importante para que a perfuração não atinja a câmara pulpar e ocasione pulpites de caráter irreversível ou mesmo necessidade de tratamento endodôntico. A competência e a experiência de um profissional da área da cirurgia são de vital importância para que esses danos sejam evitados.
Alguns pacientes relatam sensibilidade após a perfuração; e, durante o movimento de tracionamento, o atrito direto entre o amarrilho e a estrutura dentária pode gerar pequenos desconfortos, que devem ser considerados normais desde que estejam dentro de um limite de tolerância. Normalmente, quando o canino surge na cavidade bucal, o paciente é encaminhado para um profissional especialista na área da Dentística e a perfuração é restaurada, minimizando a sensibilidade.

FONTE:

Perfuração do esmalte para o tracionamento de caninos: vantagens, desvantagens, descrição da técnica cirúrgica e biomecânica – Dental Press J Orthod  Sept-Oct;16(5):172-205 – 2011

Leopoldino Capelozza Filho,
Alberto Consolaro,
Mauricio de Almeida Cardoso,
Danilo Furquim Siqueira.

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