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DEPOIS DO BAILE DE GALA

MAIS UM CONTO DA SÉRIE NUNCA ANTES PUBLICADO….

No apagar das luzes do Buffet, um grupo de formandos, com seus ternos já amarrotados e rotos, suas gravatas, levianamente, no bolso ou amarradas nas testas, decide estender a festa nos bares do Mercado Central.

Naquela hora, o mercado estava silencioso, havia, somente, as senhoras ocupadas com a compra do dia e às voltas com seus legumes, verduras e frutas. A malta chegou enchendo de alegria e vozes aquele templo de consumo alimentício.
– O Jereba, coloca aí pra gente umas Brahmas… deixa vê… coloca também este mocotó, aqueles torresminhos e este salchição. – gritou o formando Fernando.
– Olha, o salchição é de ontem – gritou o Jereba
– tem ‘portancia’ não!!! manda vê.
Todos passaram a beber e comer, felizes da vida por estar ali: esticando a festa, por terem formados, por serem jovens, bonitos e bem resolvidos e por saber que agora teriam uma profissão de verdade. Só ouvia o tinir dos copos brindando e o ruído seco dos torresmos entre os dentes. E foi, justamente, nessa hora que o formando Alex sentiu os primeiros ecos de uma revolta que avizinhava. As finas iguarias do Buffet se recusavam, terminantemente, a se misturar com o mocotó, com o torresmo e muito menos com o salchição de ontem. Elas queriam sair primeiro, e foi um flatos que denunciou essa intenção e os movimentos da grande revolta.
Alex passava a ponta de sua gravata na testa ;afim de secar o suor frio que rolava pela tez alva. Alva porque o sangue fugia do seu rosto, para ir as entranhas auxiliar na batalha. A barriga sentia toda angústia e dor de uma rusga que poderia ter conseqüências graves. Mas Alex se mantinha firme, segurava o seu copo, com a mesma segurança que Luís XVI andava pelos corredores de Versalhes, e comia mas um pedaço do salchição de ontem como se fosse brioches fresquinhos. Só que um flatos avisa a narina de Alex, que não era mais uma revolta surda e sim uma guerra declarada que já havia passado da face de trincheira para a face de movimentação. Então, ele abana sua gravata com se fosse uma bandeira branca, seca sua testa e fala com os seus companheiro de copos:
– Vou dar um tempo, e volta já!!!…
Rapidamente, ele saiu em busca de um banheiro, árvore ou mesmo um matinho, onde podesse assinar o armistício entre as iguarias e o salchição de ontem. As senhoras que viam passar aquele jovem apressado, não poderia imaginar que uma guerra estava lhe consumindo as entranhas. Alex viu uma placa que indicava o sanitários públicos, ele segue a indicação com um camicaze. Entra do banheiro e vai direto ao reservado… mas surpresa não havia latrina; somente um apoio para os pés e um buraco no chão. Ele não quis nem saber, virou de costas para o buraco, abaixa as calças e agacha-se.
ADVERTÊNCIA: caro leio, nunca… mas nunca mesmo tentem aliviar-se agachado em um banheiro publico com uma calça social semi-bag, a altura dos joelhos.

Ao invés, do restolho cair no buraco próprio; cai dentro da calça do formando, que por se sentir feliz e aliviado pelo fim da revolta, não percebeu tal capricho de refugo. Ao fim da batalha, na hora do toalete, por um erro de estratégia, Alex deixa a manga da sua camisa social passar pelos campos de batalha e ficar maculada pelo rastro restolho. Ao perceber, passa o papel na manga mas não obtém o efeito desejado e sim o contrario: espalha mais a mancha malcheirosa pelo tecido. Assim, para disfarçar dobra a manga até no cutuvelo. Pronto !!! termina o toalete, se levanta e suspende a calça… logo sente que algo escorrega pela perna
– O que será – pensou – Um bicho, talvez. Um rato ou várias baratas.
Ele, então, enfia a mão dentro da calça, com avidez afim de agarrar o que lhe andava pelas pernas. Outra vez, macula a manga, do outro braço, no rastro da calça; e, então, agarra, com força, o refugo da batalha. Ao perceber do que se tratava, solta o restolho, tira a calça, balança, dobra a manga da camisa, veste a calça e sai, totalmente derrotado do banheiro. Sai com a certeza que havia perdido a batalha. Era, agora, um vil derrotado, um ser sem qualificação. E, cabisbaixo, caminha para o bar. No bar, os amigos olha, com espanto, para ele.
– O que será que teria acontecido com ele – todos pesam.
E, se não soubessem que ele havia passado a noite no baile ou se não conhecessem a namorada dele, todos, jurariam que ele tinha passado a noite ao lado de um gambá do pior espécie.
– Amigos, aconteceram uns problemas e eu vou ter que abandonar a fragata… Até mais – despediu um Alex derrotado e amargurado.
Na verdade, seus amigos sentiram aliviados, pois o seu cheiro estava de matar e, também; ninguém gosta de dar a mão aos derrotados, aos perdedores e muito menos a um perdedor malcheiroso. Assim, logo esqueceram dele e continuaram a beber e comer o salchição de ontem. Algum tempo depois, eles voltaram a sentir aquele cheiro da derrota. E viram um Alex mais feliz e molhado dos pés a cabeças:
– É amigos, não vou embora não. Achei uma torneira ali e dei uma geral. Posso ter perdido uma batalha, mas não a guerra… – falou o malcheiroso derrotado enfiando um pedação do salchição de ontem pela goela abaixo.

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