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Fez a endodontia: E agora? Quando movimentar, ORTODONTICAMENTE UM DENTE? – 1ª PARTE

Todos os dentes endodonticamente tratados a serem movimentados ortodonticamente devem ser submetidos a uma avaliação criteriosa sobre as condições adequadas ou inadequadas do tratamento endodôntico por parte do endodontista. Nos casos de insucesso, deve-se considerar que as forças ortodônticas não modificaram a composição e a virulência da microbiota envolvida. Os insucessos endodônticos nesses casos devem ser atribuídos às mesmas causas dos insucessos que envolvam dentes com tratamento endodônticos e que nunca foram movimentados ortodonticamente.

Muitas decisões clínicas ainda se baseiam em experiências pessoais e na extrapolação de conhecimentos de áreas básicas e correlatas. Isso ocorre por falta de pesquisas específicas sobre um determinado assunto. Algumas das perguntas mais frequentes na prática ortodôntica são:

O dente foi submetido a tratamento endodôntico; quando posso iniciar sua movimentação ortodôntica?
Quando há lesão periapical, alguma coisa muda?
A necrose pulpar foi asséptica por traumatismo dentário, posso desconsiderar esse detalhe?

41) Movimentação ortodôntica de dentes endodonticamente tratados e sem lesão periapical:
O tratamento endodôntico não aumenta e nem diminui a possibilidade reabsorções radiculares induzidas pelo tratamento ortodôntico. Os tecidos pulpares não apresentam alterações morfológicas e funcionais durante a movimentação ortodôntica, independentemente do tipo e intensidade de força aplicada. Assim, se o canal estiver preenchido por material endodôntico em lugar da polpa, não ocorrerá qualquer modificação nos tecidos periodontais com o movimento ortodôntico. Se um dente endodonticamente tratado for movimentado ortodonticamente e apresentar-se com menos ou mais reabsorções radiculares, essas não estarão relacionadas com o presente tratamento endodôntico.

O tempo de espera e explicações relacionadas
Se, do ponto de vista morfológico, o movimento ortodôntico não altera a biologia da polpa e nem a envelhece, da mesma forma o tratamento endodôntico em nada interfere nos fenômenos celulares e teciduais da movimentação dentária.
A rigor, do ponto de vista biológico, a aplicação de forças pode ser feita depois de alguns dias da realização do tratamento endodôntico. Entre 15 e 30 dias, o exsudato (líquidos) e o infiltrado inflamatório (células) foram absorvidos e migraram do local. Depois de quinze dias, um tecido de granulação maduro está em fase avançada de reconstrução do ligamento periodontal.
Aos casos de movimentação ortodôntica de dentes endodonticamente tratados em que se detectou insucesso ao longo dos meses ou anos, não se deve atribuir tal insucesso à movimentação dentária efetuada. As forças aplicadas não interferem na patogenicidade e na virulência da microbiota associada, assim como na biologia dos biofilmes microbianos e lesões periapicais inflamatórias crônicas. O insucesso deve ser justificado a partir das limitações inerentes ao próprio tratamento endodôntico.

2) Movimentação ortodôntica em dentes endodonticamente tratados com lesão periapical inflamatória

As forças ortodônticas aplicadas sobre um determinado tecido não modificam, nem potencializam, a ação de microbiotas instaladas em lesões periapicais crônicas de dentes endodonticamente tratados; igualmente, também não influenciam no reparo dessas.

Mas as forças não comprimiriam os vasos da região em reparo, dificultando a proliferação celular e a síntese de novos componentes teciduais?
Não! Pois o ápice está envolvido e a região periapical preenchida por um tecido mole do antigo granuloma periapical, ou até mesmo do tecido de granulação do reparo em andamento. Não há como a aplicação de forças nesse local comprimir vasos; as paredes não são duras e nem são limitadas por um espaço periodontal de 0,25mm. Na realidade, existe uma extensa área de tecido mole em reconstrução. A força necessária para comprimir uma estrutura frágil como o ligamento periodontal não teria efeito sobre um tecido mole em uma área mais ampla, como a do reparo em área anteriormente ocupada por uma lesão periapical crônica.

CANALO tempo de espera e explicações relacionadas:
Do ponto de vista biológico, pelo que se conhece e se concebe como força ortodôntica, não há como ela interferir no reparo de lesões periapicais crônicas depois de um adequado tratamento endodôntico. A rigor, a movimentação de um dente com lesão periapical crônica tratada endodonticamente pode ser feita após alguns dias. Um tempo entre 15 e 30 dias seria mais do que suficiente para o exsudato e o infiltrado inflamatório serem, respectivamente, absorvido e migrado do local, permanecendo apenas os macrófagos e outras células que estivessem participando do tecido de granulação no reparo da área.

Em casos de movimentação ortodôntica de dentes endodonticamente tratados, nos quais se detectou insucesso ao longo dos meses ou anos, não se deve atribuir esse fato à movimentação dentária efetuada. As forças aplicadas não interferem na patogenicidade e na virulência da microbiota associada, e nem na biologia dos biofilmes microbianos e lesões periapicais inflamatórias crônicas. Nesses casos, o insucesso deve ser justificado a partir das limitações inerentes ao próprio tratamento endodôntico, não ao fato do dente ter sido submetido à movimentação ortodôntica.
A ocorrência de falhas no fechamento hermético da abertura apical em função de irregularidades anatômicas naturais, assim como a presença de deltas apicais, o material utilizado e muitos outros fatores que influenciam no resultado final, também podem justificar esses insucessos endodônticos. A possibilidade de insucesso em dentes endodonticamente tratados com lesão periapical crônica é maior do que nas demais situações.

FONTE:
Alberto Consolaro
Renata Bianco Consolaro
PUBLICADO ORIGINALMENTE EM: REV CLÍN ORTOD DENTAL PRESS. 2013 JUN-JUL;12(3):123-8.

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