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José Mindlin: leitor & bibliófilo

No último domingo do mês de Fevereiro deste ano, dia 28, morreu em São Paulo, aos 95 anos, o empresário, colecionador, leitor e bibliófilo José Mindlin. O bibliófilo era o ‘depositário’ da maior biblioteca particular de País, que incluia acervo de obras raras do Brasil e de Portugal.
Mindlin nasceu em São Paulo, em 8 de setembro de 1914, seu pai, Ephim Mindlin , era um dentista apaixonado pelas artes e que tinha gosto de conviver com grandes escritores da época.
‘Je ne fait rien san gayeté’
José Mindlin formou-se em Direito pelas Arcadas (Turma de 1936). Deixou a advocacia para fundar a empresa Metal Leve, que mais tarde se tornou uma potência nacional no setor de peças para automóveis, ele foi diretor da Metal Leve durante 46 anos, deixando a empresa em 1996, depois de vender suas ações para a multinacional alemã Mahle. Assim, Mindlin pôde dedicar-se integralmente a uma paixão que tinha desde os treze anos de idade: colecionar livros.
Sua biblioteca, doada em 2005 para a USP, conta com um acervo de quase 40 mil volumes. Transformando-a, então, na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin. A Brasiliana USP reúne a maior coleção de livros e documentos sobre o Brasil, e será instalada no coração da Cidade Universitária. Além de abrigar o acervo da BBM e suas atividades regulares de pesquisa, ensino e extensão, o novo edifício será a sede da Biblioteca Brasiliana Digital (oferta digital do acervo Mindlin e de outros acervos da USP), do Centro Guita Mindlin (centro de conservação e restauro do livro e do papel) e do Centro de Estudos do Livro (dedicado à história e estudo da imprensa, do livro e das práticas da leitura).
Mindlin era, também, um mecenas. Foi um dos articuladores da Fundação Vitae, que concedia bolsas para a realização de projetos culturais, publicou livros de grandes poetas, como Carlos Drummond de Andrade, e artistas visuais como a gravadora Renina Katz, de quem patrocinou o livro “Romanceiro da Inconfidência”, com ilustrações suas para a principal obra poética de Cecília Meireles.
Mindlin, que dirigiu o Masp e ganhou, entre outros, o troféu Juca Pato de intelectual do ano, em 1988, costumava dizer que essa escolha se devia mais à mulher Guita, com quem teve 70 anos de vida em comum e cuja paixão pelos livros a levou a aprender encadernação e fundar, em 1988, a Associação Brasileira de Encadernação e Restauro para ajudar o marido a conservar sua biblioteca – ela encadernou o primeiro exemplar (de 1810) da primeira edição brasileira de “Marília de Dirceu”, obra do poeta inconfidente Thomaz Antônio Gonzaga.
O negócio de Mindlin mesmo era a leitura, hábito que, infelizmente, foi obrigado a abandonar nos últimos anos por problemas de saúde. Sem visão, passou a convidar amigos e jovens universitários para ler em sua biblioteca, disseminando também o gosto pela leitura entre os empregados de sua casa e os enfermeiros que o assistiram nos últimos meses. Antes que seus olhos enfraquecessem, ele leu, porém, mais de cinco vezes sua obra preferida, os sete volumes de “Em Busca do Tempo Perdido”, de Proust, da qual guardava uma raríssima primeira edição francesa.

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