AIDS e a Odontologia: UMA TRISTE REALIDADE DO MEDO!

Nos anos oitenta, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) deixou o mundo todo em estado de alerta e preocupação, e foi justamente neste contexto de incerteza e insegurança que surgiu uma outra epidemia, tão devastadora quanto a ADIS…

Surgia, então, a Síndrome do Medo e do Preconceito.

Naqueles anos, além de aidético, os portadores do HIV viraram párias e proscritos da sociedade, sofrendo todo tipo de preconceito e humilhação. Pois bem, a medicina avançou bastante e o terrível mal foi ‘domando’. Hoje, os portadores do HIV levam uma vida quase normal. Digo quase normal, porque a Síndrome do Medo e Preconceito continua, mesmo que veladamente, rondando a vida dessas pessoas.

Uma pesquisa realizada pelo Hospital Estadual Emílio Ribas revelou que 90% dos atendimentos realizados, em seu serviço de odontologia, são de pacientes, portadores do HIV, que sofrem danos severos devido à falta de higiene bucal e cuidados odontológicos. Segundo Eliana Moutinho, dentista do Emílio Ribas, as doenças bucais em pacientes HIV positivo são sempre graves, pois a baixa imunidade impede a recuperação do indivíduo e dificulta o tratamento.

Embora chocante, a realidade é que a maioria dos dentistas não está preparada para atender os pacientes HIV positivo. Medo, preconceito, insegurança e simples falta de conhecimento levam várias dentistas a negar o atendimento a esses pacientes.

Devido às suas formas de transmissibilidade, a AIDS acabou provocando uma verdadeira revolução na área de saúde, através de mudanças repentinas nos procedimentos de controle de infecção. No entanto, vários estudos concluíram que a infecção por HIV é um problema menor para a equipe odontológica do que a infecção pelo vírus da hepatite B. Pesquisas têm confirmado que o HIV tem baixíssima infectividade, sendo facilmente destruído. Segundo alguns autores, desde que medidas universais de precaução sejam aplicadas, o risco de infecção pelo HIV durante um atendimento odontológico é praticamente zero.
Na verdade, os profissionais de saúde devem considerar todos os pacientes como potencialmente infectados, sendo que os procedimentos de biossegurança devem ser adotados como rotina em todo e qualquer atendimento, indiscriminadamente.

O que vem acontecendo, sistematicamente, no atendimento a indivíduos HIV positivo, é a dificuldade dos pacientes em conseguir atendimento odontológico quando revelam seu estado de soropositividade ao profissional, ou quando apresentam sinais clínicos da doença. Segundo relato de indivíduos infectados, a recusa do atendimento por parte de cirurgiões-dentistas é mascarada por argumentos técnicos ou outro tipo de esquiva.

Uma prática utilizada é sobretaxar os procedimentos odontológicos, encarecendo, assim, o tratamento. Os valores ficam tão elevados que impossibilitam o tratamento. Outro argumento apresentado é o medo de perder pacientes. Alguns dentistas afirmam que não atendem os pacientes portadores de HIV, pois, assim, perdem os seus pacientes, transferindo o preconceito que sente para as outras pessoas.

Por outro lado, a preocupação com a perda de outros pacientes pode ter algum fundamento. Pesquisas demonstram que vários indivíduos não continuariam a se tratar com seu cirurgião-dentista se soubessem que o mesmo atendia pacientes com AIDS.
No entanto, a maioria dos pacientes que era atendida por profissionais que trabalhavam sob ótimas condições de higiene, sob o ponto de vista do próprio paciente, se mostraram dispostos a continuar seu tratamento mesmo sabendo que o cirurgião-dentista atendia a pacientes com AIDS.
Em contrapartida, nenhum dos entrevistados que classificou o atendimento recebido como péssimo ou regular, em relação às condições de higiene, continuaria seu tratamento com o mesmo cirurgião-dentista, caso este atendesse pacientes com AIDS…

Como os pacientes ainda se mostram muito preocupados com a possibilidade de contrair o HIV no consultório odontológico, ensiná-los sobre as formas corretas de minimizar os riscos de infecção cruzada parece ser uma boa conduta a ser incorporada na prática diária.

O paciente soropositivo está exposto a diversas infecções graves causadas por bactérias bucais, que se não tratadas a tempo podem ocasionar sérias infecções como a endocardite bacteriana, podendo levar o paciente ao óbito. O acompanhamento odontológico desse pacientes deve ser rigoroso e periódico, com consultas a cada três meses.

Urge aos dentistas adequar a postura profissional à realidade da AIDS nos consultórios odontológicos.

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