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2ª Opinião: Aparelho fixo em ‘dentes de leite’: É possivel? – by: Gustavo Camilo

A Coluna 2ª Opinião é um espaço, no Ortoblog, dedicado aos convidados especiais. Com um artigo de prima qualidade, o convidado de hoje é o meu amigo Dr. Gustavo Camilo. Ao ler o artigo do Dr. Gustavo, sentimos logo que ele tem o dom de facilitar o difícil e explicar o complicado, descomplicando. No dia que eu tiver filhos, eles já tem um dentista!

BIO:

Gustavo Camilo do Nascimento Costa

  • Formado pela Universidade Federal de Alfenas (Unifal) – MG
  • Especialista em Odontopediatria pela Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas (APCD), Regional São Carlos – SP
  • Odontopediatra e professor dos Curso de Aperfeiçoamento em Ortodontia Preventiva e no Curso de Especialização em Ortodontia do Instituto Lenza, em Goiânia-GO.
  • Autor do Blog do Tio Dentista
  • Colaborador no blog Medo de Dentista

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Há alguns meses, tive a imensa honra de receber lá no Blog do Tio Dentista a visita do colega e amigo Leo Augusto, autor aqui do Ortoblog. Na ocasião, ele me ajudou a mostrar para muitos pais e mães que criança pode usar aparelho sim, desde que o diagnóstico tenha sido o mais adequado. Entretanto, os aparelhos utilizados pela Ortodontia Preventiva são diferentes do conjunto bandas-fio-braquetes-borrachinhas a que muitos estão acostumados.

Hoje eu venho retribuir a visita pra falar do mesmo assunto, mas sob um enfoque diferente: tratamento ortodôntico em dentes decíduos. Por que não usar o aparelho fixo convencional, com braquetes e fios?

premioPelo simples fato de que eles NÃO FORAM FEITOS para dentes decíduos. Até porque, dentes decíduos não foram feitos para serem movimentados. Decíduo, como o próprio dicionário nos diz, é aquilo “que cai ou se desprende em determinada fase do desenvolvimento.” Resumindo: dente decíduo foi feito pra cair mesmo!
Assim que o dente de leite termina a sua formação, ele começa seu processo de rizólise, ou seja, de reabsorção da raiz. Esse processo é lento, gradual e fisiológico. É normal que aconteça. Essa reabsorção ocorre devido aos mediadores químicos presentes em áreas sem estresse celular ou inflamação. Tais mediadores encontram-se em quantidade bastante reduzida, fazendo com que o processo de reabsorção seja lento. Além disso, os dentes decíduos têm pouca quantidade de cementoblastos, células que acabam protegendo a raiz por não terem receptores para os mediadores da reabsorção.

Pois bem. Quando montamos um aparelho ortodôntico fixo convencional (bandas, bráquetes e fios), imprimimos uma força aos dentes. Essa força tem, como principal objetivo, promover a movimentação do dente, seja ela de inclinação, giro ou “de corpo”, com o intuito de melhorar a posição do mesmo e, consequentemente, a oclusão do paciente. Essa movimentação, conseguida através do estresse celular devido a uma compressão do ligamento periodontal, acaba liberando os tais mediadores químicos capazes de promover a reabsorção radicular. No caso dos dentes permanentes, tudo bem, pois eles estão recobertos pelos cementoblastos. Como eles não têm receptores, não “recebem” a mensagem para a reabsorção radicular.
O problema é que, nos dentes decíduos – como foi falado anteriormente – a quantidade de cementoblastos é pequena, havendo vários pontos da superfície radicular “desprotegidos”. A movimentação induzida pelo aparelho, ao gerar força e estresse no ligamento periodontal, faz com que haja um acúmulo dos mediadores da reabsorção. Por conseguinte, o processo de rizólise é acelerado. Qual o risco? Chegar ao final do tratamento só com as coroas dos dentes decíduos, literalmente penduradas no aparelho fixo!
Mas e se o paciente tiver um apinhamento severo ainda na dentição decídua?
Não seria o caso de colocar um aparelho pra diluir esse apinhamento e, assim, evitar que o mesmo ocorra na dentição permanente?
Não!
O que temos que ter em mente sempre é que a criança é um ser dinâmico e está em constante crescimento e desenvolvimento. Isso significa que a gente tem que levar em consideração o que a própria natureza pode fazer por ela durante todo esse processo. Estou falando dos “mecanismos compensatórios do crescimento”: crescimento transversal dos arcos dentários, aproveitamento do espaço livre de Nance (leeway space), maior inclinação para vestibular dos incisivos permanentes e curva de Spee (no caso do apinhamento, não entram os diastemas inter incisivos e os espaços primatas). Tudo isso contribui para um aumento no perímetro do arco, o que permite uma melhor acomodação dos dentes. É claro que, muitas vezes, isso não é suficiente. Nos casos de apinhamento na dentição decídua, a probabilidade do mesmo se repetir na permanente é praticamente de 100%. Nesse caso, há que se considerar as extrações seriadas como alternativa de tratamento.

O que eu quero dizer com tudo isso? Que movimentar dentes decíduos ortodonticamente não previne futuros problemas na dentição permanente. E o que é pior: pode agravar a própria dentição decídua, através da aceleração do processo de rizólise.

Portanto, ainda que pais e crianças possam querer os braquetes e as borrachinhas, é importante que nós, ortodontistas e odontopediatras, expliquemos o porquê de nossa conduta, sempre ressaltando que estamos oferecendo o que há de melhor e mais adequado para cada paciente!

Este post tem um comentário

  1. Caty

    Boa noite, e quando um adulto precisa usar aparelho mas ele ainda possui dois dentes de leite… Vou explicar… O paciente não possui os incisivos laterais superiores, no lugar nasceram os caninos permanentes e os caninos decíduos continuam no mesmo lugar… Não caíram… Nesse caso pode ser colocado aparelho?

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