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O Papel do Dentista na Estratégia de Saúde da Família

Pouca coisa me deixa mais feliz no PSF do que atender crianças. Algumas vezes, criONÇAS. Como na Estratégia de Saúde da Família acompanhamos as famílias, pra mim a coisa mais legal é acompanhar o crescimento da criançada. E como eles crescem rápido!



Segundo o Ministério da Saúde, as atribuições do cirurgião-dentista na ESF, são:

1. realizar diagnóstico com a finalidade de obter o perfil epidemiológico para o planejamento e a programação em saúde bucal; (ou seja, o dentista precisa conhecer a população que trata e as necessidades da mesma)

2. realizar os procedimentos clínicos da Atenção Básica em saúde bucal, incluindo atendimento das urgências e pequenas cirurgias ambulatoriais; (clínica geral – um pouco de pediatria, um pouco de geriatria, muita perio e dentística, quase tanto de exos… e o que mais for possível com os recursos que se tem)

3. realizar a atenção integral em saúde bucal (promoção e proteção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação e manutenção da saúde) individual e coletiva a todas as famílias, a indivíduos e a grupos específicos, de acordo com planejamento local, com resolubilidade; (ou seja, ser efetivo nas medidas educativas e preventivas, do indivíduo e do coletivo também)

4. encaminhar e orientar usuários, quando necessário, a outros níveis de assistência, mantendo sua responsabilização pelo acompanhamento do usuário e o segmento do tratamento; (encaminhas para as endos, próteses e demais procedimentos necessários, no SUS ou fora dele – por exemplo universidades ou cursos de especialização caso o município não forneça o tratamento necessário)

5. coordenar e participar de ações coletivas voltadas à promoção da saúde e à prevenção de doenças bucais; (ir em escolas da área de cobertura, realizar visitas domiciliares, organizar grupos ou rodas de conversa com a sua comunidade)

6. acompanhar, apoiar e desenvolver atividades referentes à saúde bucal com os demais membros da Equipe de Saúde da Família, buscando aproximar e integrar ações de saúde de forma multidisciplinar. (exemplo: curso de gestantes, consultas de puericultura, grupos de hipertensos ou diabéticos, sempre integrando ações)

7. contribuir e participar das atividades de Educação Permanente do THD, ACD e ESF; (bom, aí não sei muito como funciona por não ter uma ACD trabalhando comigo na ESF, mas enfim, resume-se em coordenar ações dos técnicos e participar das atividades propostas por outros membros da equipe)

8. realizar supervisão técnica do THD e ACD; e

9. participar do gerenciamento dos insumos necessários para o adequado funcionamento da ESF. (descarte adequado do material utilizado)

Isso tudo me permite atender idosos, pacientes especiais, ser um pouco cirurgiã, posso fazer estética e periodontia, mas o que mais me fascina é poder ser uma coisa só: ODONTOPEDIATRA! E mais que isso, um pouco “obstetra” também, afinal, trato as crianças desde que estão na barriga das mães, coisa quase impossível de fazer no consultório pelo medo que as gestantes têm de ir ao dentista e pela pouca informação que os obstetras passam quanto ao pré-natal odontológico e puericultura.

Uma pena a maioria dos colegas não entender a complexidade da Estratégia da Saúde da Família e o papel do dentista dentro dela. É um trabalho de assistência integral ao indivíduo, somos responsáveis pela saúde do paciente como um todo. Não podemos simplesmente detectar algum problema de saúde e passar batido por isso, sem tomar alguma providência. E quando conseguimos ser resolutivo nos tratamentos o sentimento de “cumpri minha parte” é o mais completo.

Já faz 3 anos que trabalho na Estratégia de Saúde da Família, e nesse pouco tempo já vi gestantes terem bebês, esses bebês crescerem e todos eles não terem cáries graças às informações passadas durante a gestação, e a compreensão das mães com todas as informações que lhes foram passadas. Já virou rotina ao menos uma visita ao dentista durante o pré-natal, as consultas de puericultura com médico e dentista, as idas ao dentista só pra fazer uma revisão/limpeza. Coisas essas que quase não acontecem no serviço privado, o qual atuo também, este há 4 anos. Pude perceber que se o SUS contar com profissionais dedicados e envolvidos com suas comunidades está andando pro caminho certo, e que além disso conta com muito mais informação que o serviço privado, justamente por haver uma necessidade de integração desses profissionais.

O meu recado pra quem está na faculdade ainda: pense que você um dia pode precisar de um emprego que pague um salário fixo. Se você optar por ele, faça-o com perfeição dentro dos recursos que tiver disponível. Pra quem já está no SUS e reclama: você está sendo pago pelo que está fazendo. Faça bem feito, você concordou com o salário e condições de trabalho quando se inscreveu no concurso. Pra quem está, e assim como eu ama o SUS: PARABÉNS! O Ministro da Saúde me disse publicamente que precisa de gente como nós. ;)O motivo que me levou ao SUS foi a necessidade, eu estava desempregada e nunca me imaginava fazer o que faço por paixão. Não tive incentivo nenhum na faculdade e a maioria dos alunos não tem – e por isso odeia a Saúde Coletiva. Se estivesse em posição de escolha no dia de hoje trabalharia exclusivamente com o SUS, por ser mais recompensador. É impagável aquele sorriso de satisfação por algo que estamos sendo pagos pra fazer. As vezes fazemos tão pouco e faz tanta diferença na vida de uma pessoa que não imaginava sorrir de novo.




Eu sou Marjorie Lanzarin, cirurgiã-dentista da Estratégia de Saúde da Família Lava Pés de Passo Fundo – RS, preceptora do programa PET-Saúde, quase sanitarista e especializanda em Saúde da Família. A DIVA do SUS do blog OdontoDivas.




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