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Segunda Opinião: Sobre Acidente, dor e SUPERAÇÃO


A Coluna Segunda Opinião tem o grande orgulho de publicar um texto assinado pelo Dr. Marcelo. Neste texto, ele nos conta a sua história de dor e, principalmente, de grande superação!


Então, leia o texto, inspire-se nele, jogue a sua ‘muleta’ fora e faça da superação a tônica sua vida!

BIO:

Marcelo Henrique Rattis Amaral formou-se na UNILAVRAS em 2003. Especialista em implantodontia pelo IES, aluno especialização em ortodontia pelo CETRO. Apaixonado por esportes de aventuras, família, profissão e claro, com aquela cerveja junto aos amigos! Trabalho em BH, Carmópolis de Minas e Passa Tempo MG. 
Contatos: fone:31-8663-4806  –  e-mail: [email protected].  – Em BH, Av. Brasil 1438 sl. 805 – Funcionários 31-3072-2897



Último ano de faculdade de odontologia, Lavras, maio de 2003.

Aproveitando um feriado, fui visitar minha família em Carmópolis de Minas. Sábado à tarde, aquele sol e resolvi fazer um passeio de moto sem compromisso e sem rumo pelas estradas de terra. Aproximadamente 20 km da cidade, sem cruzar com um veículo sequer, 16:00h, em uma curva à direita, descendo, uma erosão de chuva na estrada e a 40km/h perco o controle da moto e bato no barranco com a moto esmagando minha perna esquerda.
Agachado após o tombo e consciente, começo a fazer um apanhado da situação, mãos ok, dentes, e quando puxo minha perna para cima, fica o pé. Um sangramento intenso e uma fratura exposta na altura da canela esquerda, deixou-me desesperado. Após uns segundos de total desespero, gritos, assobios, me joguei no meio da estrada e aquela história de a vida passar em segundos pela cabeça, aconteceu. 

Consciente que seria eu ou eu mesmo a me tirar dali, comecei a tomar atitudes fundamentais para prosseguir. Num ímpeto de desespero, me levantei só com a perna direita. Levantei a moto, subi e com um braço segurava a perna quebrada, com a outra eu tentava pilotar a moto que estava em uma descida. A moto não funcionava, pois o câmbio é do lado esquerdo e não conseguia mudar a marcha. No fim da descida, havia uma porteira. Parei e me joguei no chão, sempre protegendo a perna. Comecei a gritar e alguns minutos depois chegou um rapaz a cavalo, veio ao ouvir de longe os gritos. Nesse intervalo, coloquei minha perna na posição anatômica e fiz um torniquete com a camisa. O torniquete era conscientemente afrouxado de tempo em tempo para circulação sanguínea. O rapaz a cavalo se encarregou de buscar um fusca que tinha na fazenda vizinha, cujo motorista, um rapaz de uns 15 anos era o responsável. Algum tempo depois chega o carro, eu mesmo programei para que ninguém encostasse na perna e não fizesse nenhum movimento brusco. A dor era fora do normal, sensação de desmaio de 5 em 5 minutos que eu controlava respirando fundo. A visão ia sumindo e eu me esforcei muito para ficar ligado o tempo todo. Uns três homens me levantaram e me colocaram no banco traseiro do fusca enquanto eu mantinha a perna no nível adequado. 

O destino era o hospital de Cláudio, uma cidade que estava a uns 10 km dali. Chegando ao hospital, sábado, um médico milagrosamente estava de plantão.  Vieram umas enfermeiras com uma caixa de soro para lavar o ferimento, fundamental para evitar uma infecção no futuro e uma cadeira de rodas para me tirar do carro. Recusei-me a sair pois eu precisava de uma maca. A cadeira não era adequada para a perna dependurada… A dor prefiro não comentar. Chorava igual a uma criança.
 
Iniciou-se todo processo de transporte para BH, levando-me para o hospital João XXIII. Liguei para meus pais em Carmópolis e os confortei o máximo dizendo que estava tudo ok, que só tinha quebrado a perna e que me sentiria mais tranquilo indo para BH.
Pura mentira, a coisa estava feia!

Fui de ambulância até o trevo da 381 onde encontrei meus pais. A viagem foi inesquecível! Fui mordendo aquelas cortinas nojentas da ambulância por 100Km. Enfim, cheguei a BH, por volta de 21h, com fome, boca completamente seca pois não podia beber nem comer nada. Perda de consciência, dor, sangramento intenso. Tenho uma tia que era responsável pelo bloco cirúrgico no João XXIII, situação que facilitou 100% minha vida. Cheguei e já estava todo mundo me esperando. À tia Silvana minha eterna gratidão. Às 22h, após traumáticos exames de imagem, uma médica enfim me anestesiou e cheguei ao paraíso.
Resumindo, três dias hospitalizado, perdi dois dias de aula. Meus amigos viajaram para a Gnatus em Ribeirão Preto na segunda, terça e quarta. Perdi aula quinta e sexta. Na outra segunda, às sete da manhã estava eu operando um paciente na clínica de cirurgia com minha perna para cima e o tylex do lado. Cheguei de cadeira de rodas, que me serviu um bom tempo. Meus pais insistiam que eu trancasse o curso no ano. Segui firme, não perdi um dia de aula, era voluntário da bebê clínica, passei na prova para monitor de cirurgia, passei no teste para acompanhar a especialização em implantodontia, fazia um curso de cirurgia a parte da graduação nas sextas a noite e sábado pela manhã de 15 em 15 dias. Não perdi nem um dia de aula, de festa, de compromisso. Não usei a fratura de desculpa para nada na minha vida. Ela não me impediu nem me impede de nada.  Participei de tudo, com muita luta e com total apoio dos meus amigos e minha família, os quais tenho uma dívida eterna. Sem eles, de fato não seria possível. Eles deixaram mais fácil, mais leve e doce. Alguns amigos em particular foram tais como pais, fizeram tudo de coração. Tenho certeza.
Um adendo às inúmeras visitas ao hospital, três vezes por semana, para colocarem uma “pinça mosquito” dentro do ferimento e fazerem uma drenagem na perna, para eliminar pus. A única vez que um amigo entrou para acompanhar, saiu de lá passando mal. Os gritos ecoavam pelo recinto…

Foi uma fratura de tíbia e fíbula. A fíbula, cominutiva com perda de substância. Tenho uma haste intramedular do joelho até o tornozelo, não tenho apoio em fíbula. Em outubro, a haste fraturou e tive que me submeter a uma nova cirurgia, um mês antes da formatura. Cirurgia feita, na minha missa, apostei com amigos professores que entraria andando. Gentis, diziam acreditar nisso. E aconteceu. Meus primeiros novos passos, sem muletas, foram dados entrando na missa ao lado de um grande amigo. Antes de colar grau, comecei a trabalhar em BH, sem precisar financeiramente, e contra a vontade de muitos, mas precisando mostrar para mim mesmo que essa não seria uma desculpa para não fazê-lo.

Hoje, dez anos depois, estou aqui, firme do mesmo jeito, aliás, muito mais firme. Corro, pedalo muito, participo de corridas de aventura na categoria pro com parceiros de responsa. Já participei de provas de 100, 200, 600 Km, remando, correndo e pedalando pela vida. Quando não usamos de desculpas para tudo, somos mais capazes.

Isso eu aprendi!!!

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