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AS TREVAS, NOITE

Mais um conto… sim! também não foi publicado!

Escuro… Infinitamente escuro…
Era assim o sonho de Fabrício. Não só escuro, mas com algo deforme… Muito mais escuro que o escuro do restante do sonho. Era como uma sombra muito negra que andava pela tela escura do seu sonho . Algo perturbador; pois, mesmo dormindo, Fabrício sabia ou sentia que estava com medo. Com medo não, mas um temor muito grande. Pois, ao acordar ele ficou aliviado. Mas a negritude do seu sonho o impressionava e um certo medo ou tensão ainda podia ser percebida no rosto dele.
Não fez como sempre, ao andar pelo casa, ele não precisava ascender as luzes, mas esta noite ele ascendeu todas as luzes: do seu quarto, do corredor, da sala de jantar e da cozinha. Não queria ver nada escuro. Sonho, medo e a tensão ainda estavam presentes.

Voltando para o quarto, apagou as luzes, tudo ficou na escuridão, mas ao passar pela sala de televisão, uma perna estendida no sofá lhe chama atenção. Caminhando devagar, chega ao sofá. Era somente Larissa. Ela havia ficado por causa da chuva. Então, fica a observá-la… “Larissa é uma moça realmente muito bonita. Fica muito, mas bonita, assim, tranqüila com esse sorriso que lhe moldura o rosto.
– Larissa… La – chamou-a – acorda La. Vai dormir na cama, comigo. Aqui você vai ficar com dor nas costas. Anda, Larissa acorda!!
Larissa ainda demorou um tempinho para acordar, mas o que fez de forma graciosa. Primeiro abriu apenas um olho, esperou e imagem focar para abrir o outro. Abriu, e quase simultaneamente, apertou os olhos para melhor ver na escuridão, que lhe feria os imensos e belos olhos esverdeados.
– Fabrício?… O que foi?
– Vai dormir na cama. Aqui você vai ficar com dor nas costas. Não esta com frio?
– Sim, estou. Estou com frio e com medo
– Venha que eu vou te aquecer nos meus braços…
– Estava tendo um sonho muito esquisito. Eu sonhei que o demônio estava aqui… Aqui mesmo na sua casa. E ele tentava me seduzir, transformando em você… Em pantera. Tinha uma voz firme e gostosa. O pior era que estava gostando.
– Deixa de bobagem, menina!!! E vem dormir na cama.
– Estou com medo… Com muito medo. Me abraça ou melhor me carrega para o quarto. Como posso sonhar com uma coisa medonha assim?
– Não precisa ter medo, agora. Você esta nos meus braços… Para sempre. E vai ver que para sempre é mais que a eternidade.
Então, com ela nos braços, ele caminha para a quarto. Não caminha, mas flutua, na imensa escuridão que a casa estava envolvida. Seus olhos vão vencendo a escuridão brilham como chamas ardentes. Era um brilho intenso que iluminava, passo a passo, o curto corredor que liga a sala de televisão ao quarto de dormir.
Já no quarto, vai tirando, lentamente, as roupas de Larissa, peça por peça. Agora, seus olhos iluminam o corpo que vai sendo revelado… O corpo que está debaixo dos panos. Vai iluminando o belo corpo que ele, tanto, quer amar. Então, para de tirar as roupas da moça, fecha os seus olhos e começa a tirar as suas roupas… Na escuridão ela não vê o corpo dele, mas sente o seu intenso calor, o seu cheiro e sente, também, todo o febril tesão que esse macho pode e vai lhe proporcionar. Entreabre os lábios e deixa escapar um breve e sensual gemido.
Esse mesmo gemido, ele traduz como um consentimento formal para começar o amor. Ela sente o peso dele sobre o seu corpo, o calor aumenta, ele sente os lábios dela roçar o seu pescoço, só há a escuridão por testemunha e os corpos juntos, num ritmo de amor frenético. Todo o quarto, toda a casa, talvez toda a rua ou, mesmo, toda a cidade estão mergulhados na mais completa escuridão… Assim, os corpos dos amantes são manchas negras que formam silhuetas de amor, tudo é permitido, no escuro, para os dois que se entregam sem reservas.Então, ele se levanta, enquanto Larissa continua deitada, totalmente, entregue ao torpor.
Fabrício observa a escuridão e começa a sentir medo. Não consegue esquecer-se do seu sonho, não consegue esquecer a mancha negra que andava pelo o espaço negro do seu sonho. Ao voltar para o seu quarto, caminha lento, com uma incrível tensão apertando-lhe o peito. “Por será que Larissa apagou todas as luzes? Por que será que ela deixou a casa ser invadida por esse breu?” Seus olhos vão enfrentando a escuridão com muita dificuldade.
Ao chegar no quarto, estava ainda mais escuro e, também, muito frio. Fabrício leva uma rajada de vento e, instintivamente, olha para a janela e ainda há tempo para ver uma grande, ou melhor, uma enorme pantera negra pulando pela janela e sumindo na escuridão da noite.

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