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Conto: AS IMEMORÁVEIS FESTAS DO EMBAIXADOR – 1ª Parte

Sempre passando por ali, dia após dia, mês após mês e ano após ano, Roberto acabou fazendo amizade com Demostiles do Amparo, mas conhecido por: Dedé da Mariquita, o porteiro, vigia, coveiro e quebra-galho do pequeno cemitério da cidade. Quando Roberto apontava na esquina, o Dedé já gritava:
– Noite, Dotô Roberto!
– Boa noite, seo Dedé da Mariquita.
Foi sempre assim, Roberto passava, Dedé gritava e os dois trocavam cumprimentos. Até aquela noite, quando Roberto chega à esquina e Dedé grita:
– Noite, Dotô Roberto!
– Boa noite, seo Dedé da Mariquita. – retruca o outro.
– Dotô Roberto tá com pressa? Tem tempo para dois dedo de prosa? – Perguntou Dedé.
– Não, não estou com pressa, não. – respondeu Roberto – Você está querendo alguma coisa?
– Não, é que… – falou seo Dedé abaixando a voz, olhando de um lado para o outro e aproximando mais de Roberto – É que se eu falar isso vão achar que eu pirei de vez, que estou gagá ou vão achar que eu sou um velho idiota.
– Ora seo Dedé, o senhor não confia em mim? Pode falar qualquer coisa. Eu vou pensar nada disso de você. Afinal somos amigos… Tanto tempo que, quase todo dia, a gente se encontra aqui.
– Sabe o que é Dotô Roberto, o Embaixador, aquele do mausoléu, ele, desde que veio para cá, dá festa todas as noites… É isso mesmo Dotô Roberto, o Embaixador dá festas lá no mausoléu dele. E não precisa ficar mi olhando com essa cara de coitado, não. Porque é a verdade. Antes, eram só reuniãozinhas, mas com a passar todos tempos, as festas foram ficando cada vez mais amimadas. Tenho medo que o rumor das festas chegue na cidade e alguém de lá queira vir nas festa do embaixador… Será um deus nos acuda.
Roberto olha para seo Dedé e se esforça para não cair

na gargalhada. Fica pensando que o amigo, que já é um homem de idade, está esclerosado ou doido mesmo. Depois, veio um sentimento de pena. Como o ser humano é frágil diante da velhice, pensa Roberto. Que procura algo, na sua mente, para ser solidário para com ao amigo e ao mesmo tempo não se comprometer com uma história dessas.

– Seo Dedé, eu vou lá falar com esse tal embaixador. Ele tem que parar com essas bagunças, enfim cemitério é um local de descanso e paz. Aqui é o lugar da última morada e não local de libertinagens. Vou lá… – Falou Roberto com uma voz grave e solene.
– Cê tá doido, Dotô… Nas festa do embaixador só pode entrar com traje de gala. Não… o senhor não está mal vestido… é que só entra mesmo de casaca. – Avisou o velho se colocando no meio do portão, para impedir a entrada do amigo.
– Está bem, seo Dedé. Vou vestir uma casaca… Qualquer dia desses e por fim nessas festas que atrapalham o sono eterno dos justos que aí estão. Até amanhã.
– Inté, Dotô!!
Roberto foi embora, e não agüentou. Logo, que virou de costas, começou a rir da história fantástica que o velhinho havia contado. Quem será o convidado do embaixador? – pensava Roberto – Deve ser, de certo, a família Addams, o conde Drácula, Dr. Silvana, o Príncipe das Trevas e outras criaturas da noite. Coitado do seo Dedé da Mariquita.
Assim, a partir desse dia, Roberto passou a perguntar, ao amigo, pelas festas do embaixador. E sempre era, devidamente, informado da programação da noite, na maior seriedade. Era informado que havia um recital de poesias da Sociedade dos Poetas Literalmente Mortos, ou que havia um concerto de piano com a pianista do túmulo 112 e que a programação da noite seria uma homenagem a um ministro recentemente falecido, contando com vários ilustres de além-túmulo.  Roberto ouvia as histórias de Dedé com calma e paciência para não ofender o amigo, mas tinha muita pena do estado de deterioração mental do velho amigo. Queria ajudá-lo, mas não sabia como.
Foi quando numa noite… CONTINUA.

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