…Foi quando numa noite, Roberto aparece na porta do cemitério vestido de casaca, cartola e bengala. Tinha um plano: falaria com o Dedé que o embaixador o havia convidado para uma festa, ficaria no cemitério um tempinho e depois, na saída, falaria para o amigo que o embaixador não daria mais festas. Assim, esperaria a reação metal do velho, para tomar providências mais enérgicas.
– Dotô Roberto! Cê tá parecendo um príncipe de Gales. Tá chique o homi. – Espantou seo Dedé ao ver o amigo que vestia a rigor.
– Pois é, seo Dedé. O embaixador convidou-me para a festa de hoje. Parece que vai ser boa a festa.
– Mais que sorte. Logo hoje, que vai haver um jantar em homenagem a Dom Pedro I e Dom Pedro II. Vem gente… alma, até de Petrópolis e da Soropa. muita sorte mesmo – fala seo Dedé maravilhado com a importância do amigo.
Como cara de bobo, entrou no salão que estava repleto. Reconheceu, na rodinha, perto da mesa de buffet, Tancredo Neves, Getúlio Vargas e Dom João VI conversando animadamente. Mais adiante, estavam Ulysses, Princesa Isabel, Conde D’Eu e Jânio Quadros observando Carlos Gomes reger a orquestra. Carmen Miranda elogiava o vestido da Leila Diniz. Guimarães Rosa dançava com Dom Maria I, a louca, e José de Alencar conversava com Machado de Assis e Evita Perón. Roberto pensa que ficou louco, ainda com cara de bobo, caminha pelo salão, tenta conservar com alguém, mas não tem coragem e fica olhando a tudo e a todos completamente mudo.
Um grande alvoroço, a orquestra para e entra no salão os homenageados, com o embaixador e a embaixatriz, debaixo de uma prolongando salva de palmas e gritos de viva… foi nesse momento que Roberto decidiu que iria freqüentar as festas do embaixador para sempre… incluindo a eternidade…