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CONTO – No Porão

MAIS UM BOM CONTO DO LIVRO: “AS MESMAS MENTIRAS DE SEMPRE…”
O PORÃO…
Estou no porão da minha casa e olho para cima, para o patamar da escada. Vejo duas botas negras descendo a escada e, degrau por degrau, elas vão entrando na escuridão do porão. Então, a porta, ruidosamente, bate. No infinito breu, só escuto os passos, cada vez mais perto e cada vez mais ameaçadores. Fico com medo… não, estou apavorado e, tateando, as paredes úmidas e mofadas, vou para o fundo do porão.
Agora além dos passos, escuto uma   respiração branda, ritmada e, assustadoramente, calma. Ela se aproxima e vai ficando mais alta. É apavorante… Assento, de repente, uma coisa fria e nojenta passa correndo, sobre o meu pé, creio que é um rato. Não posso ver, mas sinto que ele está perto de mim. Não vejo nada, meu coração está disparado. Cada vez estou com mais medo… Não escuto mais os passos. Agora, somente, a respiração e uma canção assobiada, que reconheço… é “Tocada e Fuga de Bach
Olho em volta, pensando em um jeito de escapar dali… Rezo… Vejo uma pequena fresta, donde passa um pequenino raio solar. O raio de sol prende a minha atenção, lembro-me dos meus dias de infância, onde um raio de sol, que atravessava uma fresta, era um sinal: que a noite havia acabado e um novo dia de aventuras e venturas se anunciava. Mas, quando olho para frente vejo: uma grande lâmina de aço polido passando, brilhando, pelo raio. E ela vai rasgando o ar na sua trajetória mortal…
Foi, justamente, nesse ponto que Dona Clara largou o livro. Tirou os óculos e fechou os olhos. Ela não sabia se estava gostando do livro ou não…
Mas, um barulho tira Dona Clara da sua meditação, ela levanta assustada, nunca tinha ouvido aquele barulho.
Então, ela o segue… passa pela sala de jantar, atravessa a copa, sai na cozinha. Abre a porta dos fundos, anda pelo quintal, chega à entrada do porão, abre a sua porta e começa a descer as escadas.
Foi, justamente, nesse ponto que Dona Clara nunca mais foi vista…

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